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Artigo: Cidades em queda livre, por Gabriel Azevedo
28/05/2025
Gabriel Azevedo
Advogado, ex-Presidente da Câmara Municipal
de Belo Horizonte e Presidente a FUG-MG,
além de membro do Conselho Editorial da FUG
O Brasil está sumindo do mapa. Não do mapa geográfico — do mapa das cidades relevantes no mundo. No Global Cities Index 2025, divulgado pela Oxford Economics, apenas dez cidades brasileiras foram incluídas entre as mil analisadas. Nenhuma entre as cem primeiras. E, pior: a maioria caiu de posição ou se estagnou.
O índice avalia as cidades com base em 27 indicadores objetivos, distribuídos em cinco pilares: economia, capital humano, qualidade de vida, meio ambiente e governança. É uma fotografia técnica e comparável do quanto uma cidade é capaz de gerar bem-estar, atrair investimentos, reter talentos e se conectar ao mundo.
As cidades brasileiras que entraram na lista foram: São Paulo (67ª), Rio de Janeiro (207ª), Brasília (427ª), Campinas (610ª), Curitiba (647ª), Porto Alegre (715ª), Salvador (765ª), Fortaleza (788ª), Recife (823ª) e Manaus (948ª).
Apenas duas (Campinas e Curitiba) mostraram leve crescimento nos indicadores desde a edição anterior. As demais caíram — especialmente nos critérios de governança, meio ambiente e qualidade de vida. Rio de Janeiro perdeu posições por causa do colapso fiscal, da violência urbana e da piora nos serviços públicos. Salvador, Fortaleza e Recife enfrentaram queda nos indicadores ambientais e de infraestrutura. Manaus figura quase como exceção amazônica, mas com desempenho frágil.
A ausência de outras cidades médias e grandes do país é ainda mais alarmante. Belo Horizonte, por exemplo, sequer aparece entre as mil — uma exclusão que escancara o descomo entre a gestão urbana brasileira e as exigências globais. Outras capitais importantes como Goiânia, Belém, Natal, João Pessoa, Maceió e São Luís também ficaram de fora. Nem sequer figuram como emergentes em destaque.
O contraste é evidente. O ranking mostra cidades da Colômbia, Peru, Vietnã, Senegal, Quênia e Filipinas — países com desafios semelhantes aos nossos — ocupando posições relevantes. Ho Chi Minh City, por exemplo, aparece como uma das “Emerging Standouts”: cidades em rápido crescimento, com ganho de produtividade acima da média nacional e urbanismo voltado à inclusão e à sustentabilidade.
O que está acontecendo com o Brasil urbano?
Estamos presos a um modelo ultraado de gestão. Nossas cidades continuam se expandindo horizontalmente, sem transporte público de qualidade, sem infraestrutura verde, sem dados públicos integrados, sem metas claras de clima, mobilidade, habitação e inovação. Seguimos ignorando a inteligência artificial na istração pública. Mantemos orçamentos opacos, centros históricos abandonados, periferias isoladas e planos diretores desatualizados.
Enquanto o mundo fala em carbono neutro, cidades inteligentes, economia circular e dados abertos, seguimos preocupados em tapar buracos de rua e comprar mais viaturas. O problema não é falta de recursos — é falta de prioridade e competência. Os desafios são grandes, sim. No entanto, outros países tão desiguais quanto o Brasil estão conseguindo mudar de rota. Bogotá e Medellín são exemplos. Assunção, na limitada realidade paraguaia, também.
O risco é claro: cidades brasileiras estão deixando de ser competitivas não apenas globalmente, mas internamente. Estão perdendo protagonismo na federação, na captação de recursos internacionais, na inovação e na qualidade de vida que oferecem aos seus próprios moradores.
O futuro é urbano — e o Brasil está perdendo o bonde. Se não atualizarmos o software da gestão pública, vamos continuar gerando cidades cada vez mais invisíveis, injustas e irrelevantes.
E quem mora nelas sentirá o preço da omissão. Porque cidade que não aparece no mapa do mundo, cedo ou tarde desaparece da esperança das pessoas.
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